top of page

Doenças Sistêmicas com Manifestação no Periodonto

A boca é um excelente meio de diagnóstico de doenças sistêmicas. Várias doenças apresentam manifestações no periodonto. Muitas vezes, alguns medicamentos para tratamento destas doenças também podem fazer com que a reação gengival seja exacerbada. Em todos os casos onde ocorre o envolvimento sistêmico, o cirurgião dentista deverá estar resguardado por uma anamnese absolutamente completa, exames clínicos e radiográficos, exames laboratoriais gerais e específicos, além do imprescindível acompanhamento médico.


Listaremos abaixo alguns achados relativamente comuns em consultório:



Doenças Nutricionais


Deficiências Vitamínicas:


VIT. A: HIPERPLASIA E HIPERQUERATINIZAÇÃO DO EPITÉLIO ORAL; PROLIFERAÇÃO DO EPITÉLIO JUNCIONAL; RETARDAMENTO DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO GENGIVAL.


VIT. D: OSTEOPOROSE; DEFEITO DE CALCIFICAÇÃO DO CEMENTO RADICULAR; REABSORÇÃO DE CEMENTO; DISTORÇÃO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO OSSO ALVEOLAR; REDUÇÃO DA LARGURA DO ESPAÇO PERIODONTAL.


COMPLEXO B: TIAMINA, RIBOFLAVINA, NIACINA, PIROXIDINA (B6), BIOTINA, ÁC. FÓLICO E COBALAMINA (B12): GENGIVITE, GLOSSITE, QUEILITE ANGULAR, INFLAMAÇÃO GENERALIZADA DA MUCOSA ORAL.



TIAMINA (BERIBERI): HIPERSENSIBILIDADE DA MUCOSA ORAL, PEQUENAS VESÍCULAS NO PALATO OU SUB LINGUAIS.


RIBOFLAVINA: GLOSSITE, QUEILITE ANGULAR, ATROFIA DAS PAPILAS LINGUAIS.



NIACINA (PELAGRA): GENGIVITE E ESTOMATITE GENERALIZADA.

ÁC.FÓLICO: NECROSE GENGIVAL, PERIODONTAL E DO OSSO ALVEOLAR SEM INFLAMAÇÃO (AUSÊNCIA DE INFLAMAÇÃO = DEFICIÊNCIA GRANULOCITOPÊNICA INDUZIDA).


VIT. C (ÁC. ASCÓRBICO): ESCORBUTO. DIMINUIÇÃO DA FORMAÇÃO E MANUTENÇÃO DO COLÁGENO. CICATRIZAÇÃO DEFICIENTE, PERDA DENTÁRIA, SANGRAMENTO GENGIVAL, ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO OSTEOBLÁSTICA.



DOENÇAS ENDÓCRINAS


DIABETES MELLITUS:


TIPO I (INSULINO DEPENDENTE): JUVENIL.


  • ABSOLUTA FALTA DE INSULINA.

  • INSTÁVEL, DIFÍCIL CONTROLE.

  • NÃO PRECEDIDA DE OBESIDADE.

  • TENDÊNCIA A CETOSE E COMA.

  • POLIFAGIA.

  • POLIURIA.

  • PREDISPOSIÇÃO A INFECÇÕES.

  • ANOREXIA.


TIPO II (NÃO INSULINO DEPENDENTE): APÓS 45 ANOS.


  • OBESIDADE.

  • CONTROLADA POR DIETA OU SUBSTÂNCIAS HIPOGLICÊMICAS.

  • MESMOS SINTOMAS QUE A TIPO I, DE FORMA MENOS SEVERA.


ASPECTOS CLÍNICOS DA DIABETES:


  • MUCOSAS: QUELÓIDE, SÊCA, RACHADA, SENSAÇÃO DE QUEIMAÇÃO, DIMINUIÇÃO DO FLUXO SALIVAR;

  • PREDOMINÂNCIA DE Candida Albicans, SPTREPTOCOCCUS HEMOFÍLICOS E STAFILOCOCCUS;

  • DIMINUIÇÃO DOS MECANISMOS DE DEFESA, AUMENTO DAS INFECÇÕES = DOENÇA PERIODONTAL AVANÇADA;

  • ABSCESSOS;

  • AUMENTO GENGIVAL;

  • PROLIFERAÇÃO GENGIVAL EM FORMA DE PÓLIPOS;

  • PERDA DE DENTES.


ASPECTOS BUCAIS DE PACIENTES DIABÉTICOS:




HORMÔNIOS SEXUAIS:


Gravidez:


Causa transformações transitórias que tendem a amenizar após o parto. O aumento de progesterona e estrógeno causa vasodilatação periférica, aumento da permeabilidade da micro-vascularização gengival e exsudação gengival.


Tumor gravídico

Tumor gravídico


Dentre os achados mais comuns, está o granuloma gravídico. Tem como origem uma gengivite crônica pré - existente. Costuma desaparecer após o parto. Em casos de interferir na oclusão, procedimentos de raspagem devem amenizar o caso. Em situações que necessitem intervenção cirúrgica, devemos lembrar que o sangramento é abundante, deve ser realizado com conhecimento e autorização do ginecologista responsável, e na faixa de gravidez que permita intervenções.


PUBERDADE:


Associação de alterações hormonais e poucos cuidados com a higienização, geram na fase da puberdade gengivites com aspectos bastante intensos.


Observe a quantidade de placa bacteriana


SENILIDADE - MENOPAUSA:


A falta de hormônios também pode trazer alterações nos tecidos periodontais, como a diminuição da espessura dos epitélios. Com isto, ocorre a exposição do tecido conjuntivo e presença de sensibilidade.


ANTI-CONCEPCIONAIS:


Devido a ingestão de hormônios, alterações gengivais podem ocorrer. Porém, quando as pacientes apresentam boas condições de higiene oral, dificilmente observamos tais alterações. Isto pode ser considerado para as gestantes e na puberdade também.



DOENÇAS HEMATOLÓGICAS


São doenças sanguíneas, que podem interferir ou impedir o tratamento periodontal. Dentre elas, podemos salientar: Leucemia, anemias, neutropenia cíclica e púrpura trombocitopênica.


De maneira alguma podemos intervir nestes pacientes sem total acompanhamento do hematologista. Muitas vezes as intervenções deverão ocorrer em ambiente hospitalar.


Leucemia:


  • neoplasia malígna das células sangüíneas brancas.

  • coloração azul avermelhada _ cianótica.

  • gengiva marginal e papilar inchadas e com perda de tônus.

  • destruição do osso de suporte e desaparecimento das fibras periodontais.

  • hemorragia gengival.


Anemias:


  • deficiências em quantidade ou qualidade do sangue, pela redução de eritrócitos e hemoglobina, como resultado da perda de sangue;

  • formação sangüínea defeituosa ou destruição sangüínea aumentada.


Anemia


Neutropenia Cíclica:


Redução de neutrófilos, ficando o paciente comprometido em seu sistema de defesa. O paciente apresenta gengivite associada a ulcerações bucais dolorosas.


Neutropenia cíclica


Púrpura Trombocitopênica:


Nesta doença não devemos intervir de forma alguma, pois o paciente apresenta graves quadros hemorrágicos, devido a redução do número de plaquetas. Pode ocorrer devido a utilização de alguns tipos de drogas e HIV. O paciente apresenta hematomas por todo o corpo.

Púrpura trombocitopênica


DOENÇAS MUCO-MEMBRANOSAS:


Também denominadas de doenças auto-imunes. O tratamento é paliativo, com o objetivo de oferecer conforto ao paciente.


São elas:


  • liquén plano

  • pênfigo

  • penfigóide cicatricial

  • eritema multiforme

  • lúpus eritematoso


LIQUÉN PLANO:


Apresenta variedade de aparência clínica. Costuma se manifestar na bochecha na altura do plano oclusal, bordas linguais, gengiva inserida, palato duro, lábio inferior. Pode apresentar várias formas: reticulado, papular, vesicular e bolhoso (diagnóstico ≠ pênfigo).




PÊNFIGO:


  • lesões orais variando de pequenas vesículas a grandes bolhas.

  • ruptura das bolhas deixa áreas de ulceração.

  • lesões desenvolvem – se preferencialmente em rebordos alveolares desdentados e na

  • linha oclusal da mucosa.

  • gengivite descamativa ou erosiva é ocasionalmente considerada uma manifestação de

  • pênfigo.


Caracteriza-se por apresentar lesão bolhosa sanguínea que se rompe após atrito ou pressão na mucosa (sinal de Nikolsky). Conhecido como fogo selvagem, aparece comumente com maior frequência na boca do que no restante do corpo. Extremamente doloroso.



PENFIGÓIDE CICATRICIAL:


  • lesões bucais geralmente localizadas.

  • eritema e bolhas hemorrágicas que se rompem em um ou dois dias, deixando lesões

  • limpas e indolores.

  • lesões rompem e persistem por longo tempo, levando à formação de cicatriz.

  • gengivite descamativa pode ser a única manifestação da doença.



ERITEMA MULTIFORME:


  • raras lesões confinadas somente à boca.

  • doença recorrente.

  • fatores causais: drogas, stress doença sistêmica.

  • máculas ou pápulas roxo – avermelhadas com lesões bolhosas interpostas.

  • lingua severamente envolvida, com erosão acompanhada por ulceração.

  • lesões extremamente dolorosas, impedindo a mastigação e deglutição.

  • lábios invariavelmente envolvidos.


LÚPUS ERITEMATOSO:


Apresenta duas formas: discóide (LED) e sistêmico (LES)


LED:


  • ulceração bucal em 20 a 25% dos casos.

  • lesões semelhantes às do líquem plano.

  • lesão esbranquiçada com periferia eritematosa.

  • áreas vermelhas e erosadas, associadas com estrias.


LES:


  • ulceração presente no palato.

  • exantema típico em formato de asa de borboleta.

  • mucosas doloridas.


LES


LEUCOPLASIA


São lesões pré-cancerosas, que não se classificam em nenhum grupo de doença. Presente em fumantes.


Leucoplasia

DOENÇAS INDUZIDAS POR DROGAS


Estas alterações muitas vezes obrigam à alteração da droga ou dos sais componentes. Normalmente os pacientes apresentam crescimento gengival e deverão ser orientados quanto a escovação, submetidos a raspagem corono radicular e plastia gengival.



Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Buscar por Tags
Visitantes

Dr. José Sani Neto

Cirurgião-Dentista, formado em 1982 pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM/RS.

Especialista em Periodontia e Mestre em Fisiologia de Órgãos e Sistemas. Professor Titular da Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Metropolitana de Santos - FOUNIMES.

Coordenador dos Cursos de Especialização, Atualização e de Iniciação em Cirurgia Periodontal da FOUNIMES.

Professor Convidado do Curso de Especialização em Implantodontia - SENAC TIRADENTES/SP.

Professor Convidado do Curso de Especialização em Implantodontia - FOUNIMES.

Autor do Capítulo Tratamento Odontológico na Gravidez em "A grávida: suas Indagações e as Dúvidas do Obstetra", ed. Atheneu,1999.

Autor do Manual de Periodontia, ed. Atheneu, 2000.

Colaborador no Atlas de Prótese sobre Implantes Cone Morse. 1a. ed. São Paulo: Livraria Editora Santos, 2009.

Co-autor do Atlas de Implantes Cone Morse - da Cirurgia à Prótese. Ed. Napoleão, 2011.

Atenção: para cópia do conteúdo (imagens e texto) desta publicação,

obtenha autorização do autor.

bottom of page